A maior parte (77%) das 57 secretarias estaduais analisadas pelo Mapa de Gestão de Lideranças está nos níveis inicial e baixo
O nível de gestão de pessoas em cargos de liderança de 2º e 3º escalão das secretarias estaduais brasileiras está longe do ideal. Um estudo mostra que apenas 6% das secretarias atingiram os níveis considerados de referência ou avançado. A maioria (77%) delas está nos níveis inicial e baixo. No intermediário, só 17%.
Os dados são resultado de uma pesquisa desenvolvida pelo Insper e pela Vamos (parceria formada pela Fundação Lemann, Instituto humanize e República.org), batizada de Mapa de Gestão de Lideranças (MGL). Ao todo, foram analisadas 57 secretarias estaduais de gestão, educação e saúde de todos os estados brasileiros.
O objetivo do projeto era identificar boas práticas de gestão de pessoas no alto escalão dos governos estaduais. Para isso, os pesquisadores analisaram funcionários de 2º ou 3º escalão – gerentes, diretores e superintendentes – que são responsáveis pela gestão do orçamento público e pela formulação das diretrizes de políticas públicas.
Apesar dos baixos níveis observados na gestão pública, o estudo encontrou grande variação conforme as secretarias e estados participantes. A Secretaria de Planejamento e Gestão de Minas Gerais, por exemplo, atingiu o nível de referência do estudo. Já as secretarias de Governança e Gestão do Rio Grande do Sul e de Educação de Minas Gerais chegaram no nível avançado.
Considerando somente os estados em que participaram as três secretarias analisadas (gestão, educação e saúde), o estudo destaca que Rio Grande do Sul, São Paulo e Mato Grosso atingiram nível intermediário e Minas Gerais, avançado.
Não por acaso, os pesquisadores destacaram iniciativas pioneiras de Minas Gerais, com o programa Transforma Minas, e do Rio Grande do Sul, com o Qualifica RS. Ambos os estados implementaram processos de pré-seleção, desenvolvimento de lideranças e gestão de desempenho.
Mais recentemente, o Ceará também criou o programa de Gestão de Líderes Públicos, que baseia a seleção dos profissionais em mérito e competências dos gestores.
“A necessidade de um serviço público de qualidade para contribuir com o desenvolvimento e avanço do país está diretamente ligada à qualificação e engajamento dos servidores e especialmente de suas lideranças. Por isso a importância de as gestões públicas terem programas robustos de desempenho e desenvolvimento de líderes”, afirma Daniel de Bonis, diretor de conhecimento, dados e pesquisa da Fundação Lemann.
Diversidade
Os resultados mostraram que a realidade das secretarias dos estados brasileiros está bem distante do cenário ideal de práticas de gestão estratégica. No quesito diversidade, por exemplo, o índice nacional está na faixa inicial e mesmo os cinco estados que melhor pontuaram nesse quesito atingiram, na média, apenas o nível intermediário.
“Ainda temos um longo caminho a percorrer, especialmente quando olhamos para o pilar da diversidade. Vemos que a representação de pessoas negras e de mulheres em cargos de liderança ainda está muito longe do que desejamos, mas há oportunidades de avanços”, afirma Bonis.
Programas de liderança
Gustavo Tavares, professor do Insper e coordenador acadêmico do MGL, defende que é necessário que o país adote processos que garantam que os gestores públicos tenham as competências e os incentivos para desempenhar bem. “Já existem muitas evidências de que a qualidade das lideranças têm um impacto significativo e desproporcional sobre a capacidade de entrega dos órgãos públicos”, diz o professor.
O estudo mostra que alguns países têm implementado Sistemas de Alta Direção Pública (SADP). A ideia é criar ferramentas para que os dirigentes indicados para os cargos se desenvolvam para atuar na função e consigam entregar os resultados esperados.
Os pesquisadores destacam o modelo chileno, chamado de Sistema de Alta Dirección Pública Chileno. Nesse caso, o país percebeu que a seleção profissional de dirigentes hospitalares para o serviço público foi positivamente associada ao aumento do número de altas hospitalares, maior rotatividade de pacientes e taxa de ocupação de leitos.
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Por CAROLINA INGIZZA – Repórter em São Paulo, cobre Justiça e política. Formada em Jornalismo pela Universidade de São Paulo. Antes do JOTA, cobriu política, economia e negócios para o Financial Times e a revista Exame. Email: carolina.ingizza@jota.info
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